Pretendemos, com esse artigo, contribuir para o desenvolvimento de práticas educacionais situadas que sejam coerentes com as realidades das escolas brasileiras no contexto da pandemia de COVID 19 e para além desse momento. Reinterpretamos a Pedagogia dos Multiletramentos, desenvolvida pelo New London Group (2001), tomando como ponto de partida a reflexão acerca das desigualdades de acesso aos meios digitais no Brasil e de seus efeitos na pandemia. Para obtermos dados sobre as exclusões digitais de ordem estrutural que ocorrem no Brasil, recorremos aos resultados das pesquisas TIC domicílios - 2019 (CETIC.BR, 2020a) e Painel TIC Covid-19; Ensino remoto e teletrabalho (CETIC.BR, 2020b). No aspecto teórico-metodológico, assumimos a adequação das proposições do NLG em face da emergência dos letramentos digitais e das mudanças sociais em seus países, mas colocamos em evidência a necessidade de repensá-las em uma perspectiva crítica que contemple as condições sociais e educacionais brasileiras, diante das diferentes dimensões da exclusão digital e das barreiras de acesso vivenciadas pelos discentes da educação básica. Para isso, a partir das bases da Pedagogia dos Multiletramentos e na concepção de “aprendizagem pelo design” (KALANTZIS; COPE, 2012; KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020), buscamos formular alternativas para a compreensão e a produção de textos digitais multimodais no ensino de língua portuguesa em escolas públicas. Ilustrando a perspectiva desenvolvida, oferecemos um exemplo de proposta didática elaborada em torno de um meme, a qual tem como propósito estimular os estudantes a exercitarem a crítica, considerando suas condições de acesso à internet.