O presente artigo busca refletir como o teatro, lugar da partilha de sensibilidades, apresenta-se como meio fabular de fazer emergir performances que criam e recriam histórias e identidades e se abre para lugares outros na organização do sensível, ao estabelecer discursos e imagens outras acerca  da negrura, como possibilidade mesma de elaboração de uma perspectiva que potencialize outros saberes, tradições e subjetividades. Os teatros pensados, realizados, encenados/performados por artistas negras e negros podem aparecer como uma forma de lançar mão dos corpos da negrura como imagem-texto, inventariar outras imagens possíveis para esses corpos e criar imagens e narrativas que faltam. São teatralidades carregadas de uma “politicidade sensível”, que fundam espaços de cena em que a não separação nítida entre realidade e ficção representa a possibilidade de voltar ao passado e extrair dele outras narrativas para recoreografar as lacunas da memória e alinhavar histórias que se constituem nos tempos do vivido e do contado. Nesse sentido, a prática teatral pode ser uma importante ferramenta de luta e de educação antirracista, na medida em que traduz a experiência e a memória do negro no Brasil; destrói os estereótipos que reproduzem os preconceitos raciais; e processa a reposição do negro de objeto enunciado a sujeito enunciador da sua própria história e subjetividade.