Dentre as diversas brincadeiras que compõem o Carnaval pernambucano, os folguedos dos
mascarados destacam-se pela riqueza imagética: uma tradição viva que envolve brincantes,
moradores e visitantes. Um perene processo de formação, transformação e ampliação de grupos
insere os participantes em uma lógica de identificação com o movimento da Cultura da Tradição. O
universo simbólico e a estética que cercam os folguedos marcam a memória dos indivíduos e dos
lugares, acionando construções identitárias em função da visibilidade dos mascarados, que se tornam
representantes das cidades. A máscara é elemento primordial para a formação de uma teia de
entendimentos sobre as relações que constroem a dinâmica das brincadeiras. Seguindo uma
opção teórico-metodológica pautada nos direcionamentos da teoria ator-rede, no âmbito da
Antropologia das Ciências e das Técnicas, reconheci a máscara como objeto-sujeito e visualizei a
existência de uma rede sociotécnica que a envolvia. As máscaras narraram histórias sobre mudanças e
permanências, amenidades e controvérsias, sob a égide de uma tradição compartilhada.
Formatando a Cartografia das máscaras nos 185 municípios de Pernambuco, escolhi como
referencial empírico, para um maior aprofundamento da pesquisa, as centenárias brincadeiras dos
Papangus de Bezerros e dos Tabaqueiros de Afogados da Ingazeira. Bezerros, conhecida como a
Terra dos Papangus, vivencia um grandioso Carnaval: um espetáculo de proliferação de imagens,
propagado pela indústria cultural e de turismo. Os Tabaqueiros têm uma visibilidade ainda restrita
ao âmbito local, porém ampliada a cada ano, num processo de reconhecimento da importância da
brincadeira. O estalido dos chicotes, o silêncio enigmático dos brincantes, a beleza e criatividade
das fantasias, o som dos chocalhos e a força das máscaras despertam sentimentos e provocam
emoções. Partindo das peculiaridades dos lugares onde se desenvolvem os folguedos, segui uma
trajetória construída sobre os alicerces das recorrências temáticas que afloraram do intenso
trabalho etnográfico e auxiliaram o direcionamento de meu olhar. O segredo, o medo, a vaidade e o
prazer foram como fios que desenharam uma manta de conhecimento e entendimento, bordando
a vida e a história dos brincantes, dos lugares e das máscaras.
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