O presente artigo explora a Parte Segunda do volume I do Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, crônica escrita pelo jesuíta João Daniel durante os anos finais de sua vida, enquanto esteve preso em Portugal, após a expulsão dos jesuítas da América portuguesa. O texto, de invejável erudição, tanto mais por ter sido escrito de memória, relata todas as “maravilhas” vistas ou ouvidas pelo autor enquanto atuou como missionário no Estado do Maranhão em meados do século XVIII. A crônica combina uma descrição detalhista com uma visão complexa dos modos de vida dos índios. Por isso, discutimos a lógica da existência e das sociabilidades a partir dos elementos da cultura material mais frequentes na obra, a saber, das armas de guerra, instrumentos de casa (utensílios domésticos) e “brasões de nobreza”; observa-se ainda uma interessante contradição no discurso colonial do cronista.
This article explores the Part Two of the first tome of Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, a chronicle written by the jesuit João Daniel during the final years of his life, while he was imprisoned in Portugal, after the expulsion of the jesuits from Portuguese America. The text, of enviable erudition, so much more because it was written from memory, reports all the “wonders” seen or heard by the author while he served as a missionary in the State of Maranhão in the middle of the 18th century. The chronicle combines a detailed description with a complex view of the Indians' ways of life. For this reason, we discussed the logic of existence and sociability of the elements of material culture most frequent in the work, namely, weapons of war, household instruments (domestic utensils) and “blazons of nobility”, which is an interesting contradiction point of colonial discourse of the chronicler.