A palavra “luta” é frequentemente utilizada no vocabulário das “mães de micro”, como ficaram conhecidas muitas mães de crianças que tiveram o diagnóstico da Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV) – da qual a microcefalia tem grande destaque. A luta costuma designar práticas de cuidado mais intensas que essas crianças requerem e, mais ainda, revela o percurso laborioso que essas mulheres precisam enfrentar para assegurar direitos sociais para seus filhos(as) e para si mesmas. O processo de cidadanização que a luta possibilita às mães de micro inclui a circulação pelos itinerários terapêuticos e a navegação por redes de ativismo, num contexto pouco sensível para mulheres, mães e crianças com deficiência, especialmente quando vivenciam vulnerabilidades sociais. Este artigo versa sobre a narrativa de Tereza e sua mobilização política, ressaltando a complexidade dos trajetos que percorre para prover o bem-estar de sua filha Nina e, também, o cansaço rotineiro provocado por esses mesmos trajetos. Para isso, utilizo da abordagem etnográfica – que deriva da participação em duas equipes de pesquisa. Desde 2016, ambas as equipes se preocuparam em acompanhar os desdobramentos da epidemia Zika no cotidiano de aproximadamente quinze famílias na Grande Recife em Pernambuco, o que me permitiu a compreensão da intensificação das desigualdades sociais na vida de mulheres que, como Tereza, lutam por direitos básicos e, frequentemente, são atravessadas por discursos que romantizam o trabalho de cuidado e a prática de luta que exercem.