Descripción:
Nesta tese tratou-se de investigar uma experiência educativa desenvolvida em uma
organização não-governamental cujo trabalho fundamenta-se na articulação teórica entre a
Fenomenologia (Merleau-Ponty), a Filosofia Budista da mente (Nagarjuna) e a Abordagem
Transpessoal (Wilber). Buscou-se observar ao longo de três anos os deslocamentos operados
por essa experiência sobre os quatorze adolescentes envolvidos no trabalho, assim como a
suas compreensões de educação proporcionadas por tal experiência inspirada na idéia de
integralidade. Esta pesquisa, de forma mais ampla, situa-se no campo multiparadigmático da
investigação qualitativa, apresentando uma característica transdisciplinar que contempla a
dimensão humana dos seus participantes. Fazendo jus a tal entendimento, utilizaram-se
diversos instrumentos de investigação o Diário etnográfico , o Diário do aluno , a
Entrevista semi-estruturada , a Observação e análise dos conteúdos trabalhados e da prática
pedagógica , o Questionário do ideal, do comum, do Eu , o Teste de bonecos , o Teste
sociométrico , o Desenvolvimento das competências de produção de texto e consciência
metalingüística , a Escrita de si e o Estudo de caso como pequenos holons que
ajudam no desvelamento e compreensão do fenômeno, frente à teia complexa de múltiplas
relações e dimensões. O acompanhamento das experiências vividas na referida experiência
educativa forneceu algumas pistas para a compreensão da possibilidade de uma pedagogia
direcionada à integralidade no campo educativo, capaz de atuar, simultaneamente, como uma
possibilidade de saída e ultrapassagem dos modelos redutores de formação para a cidadania
democrática vigentes na atualidade. A primeira concepção fundamental do trabalho consiste
no entendimento de que a existência só pode ser compreendida adequadamente sem os
extremos do substancialismo ou do niilismo, na circularidade fundamental ou círculo
existencial concebido como Roda da Vida . É nessa circularidade de compreensão que deve
se processar a formação humana. Por meio dessa ótica, a educação é compreendida como uma
dádiva ou compaixão; um ciclo complexo de reciprocidade (dar-receber-retribuir) que
manifesta o fato de que os seres são solidários uns com os outros, pois todos são chamados a
viver a mesma sucessão de existências condicionadas que precisam ser transcendidas a fim de
alcançar a felicidade pessoal e coletiva. Na experiência educativa analisada, essa
transcendência pretende manifestar-se no âmago de um gesto cotidiano que descobre sua
origem transbordante, ou seja, busca-se enfatizar que o prazer da dádiva (doação de si, amor,
solidariedade) está vinculado à experiência da vida e da liberdade, pois o sistema da dádiva é
uma projeção social de nosso sistema de consciência, de nossa mente de liberdade, a despeito
do emaranhado de níveis hierárquicos em que esta se encontra comumente enredada. A
segunda concepção fundamental do trabalho consiste na compreensão dos processos de
crescimento percebidos com base em um modelo formativo que inclui a não-separatividade e
a flexibilização do self, tendo por referência a noção de entre-deux , como caminho que
favorece um processo contínuo de integração ou incorporação das múltiplas dimensões do
ser-no-mundo