Descripción:
O trabalho teve como objetivo principal identificar, descrever e analisar as condições
que possibilitaram filhos de famílias negras de meios populares alcançarem uma
certa longevidade escolar em Pernambuco, no período de 1950 - 1970. Nesse
sentido, buscou-se compreender como filhos de pais analfabetos ou semialfabetizados
conseguiram superar as expectativas das gerações anteriores
chegando ao ensino secundário e/ou superior no período estudado. Nesse momento
histórico, as taxas de escolarização referentes a esses níveis de ensino eram
bastante baixas, principalmente nos meios populares. A pesquisa baseou-se em
estudos realizados nos campos da Sociologia da Educação, da Nova História
Cultural, da Micro-História e da História da Cultura Escrita, que destacaram algumas
condições e fatores que contribuem para uma maior intimidade com a escola e/ou
com a leitura e a escrita de indivíduos de famílias não "herdeiras". Duas famílias com
as características acima citadas constituíram o objeto desta pesquisa. Os
depoimentos orais, realizados sob os pressupostos da história oral, constituíram a
principal fonte do trabalho. Observamos que existiram condições propiciadas pela
família, pela escola e por outros fatores externos que possibilitaram a longevidade
escolar desses indivíduos. Na instância familiar, destacaram-se, como fatores
importantes nesse processo, o permanente acompanhamento da família, sobretudo
o papel fundamental ocupado pela mãe; o papel dos irmãos mais velhos; a rotina
diária doméstica que privilegiava o estudo. Em relação à escola, constatamos o
papel desempenhado pelas instituições escolares em cada nível de ensino; a
antecipação à escolarização; a adequação do sujeito ao mundo escolar; a
construção de uma auto-estima positiva. Em relação a outros fatores externos,
analisamos o papel da inserção na cultura urbana nesse processo educativo (a
existência e a freqüência a bibliotecas e cinemas); o lugar da religião; a presença de
um indivíduo externo ao núcleo familiar. Este estudo possibilitou compreender
melhor a própria formação do indivíduo, em instâncias diversas, como um ser social
capaz de superar limites e barreiras que tornariam improváveis o seu acesso e a sua
permanência no sistema escolar, em um período histórico em que níveis superiores
de ensino não tinham as pessoas de meios populares como principal público