Esta tese de doutorado teve como objetivo de apresentar um modo singular de educar
chamado aqui de pedagogia da Vida. Inicialmente apresento a visão de homem, cultura
e natureza do pensamento reichiano e loweniano, apontando para uma crítica social e
uma busca ideativa da Vida Viva. Em seguida, procuro situar minha aproximação com o
pensamento reichiano e loweniano, suas influências teóricas e epistemológicas, bem
como tais perspectivas se situam no campo da educação – uma pedagogia que se
aproxima de abordagens escolanovistas e histórico-críticas, porém, apresenta sua
singularidade na ênfase do trabalho corporal. Adiante demarco a crítica reichiana acerca
de um modelo pedagógico biopático antivida em nossas instituições educacionais. Este
estudo parte deste cenário para construir uma proposta alternativa de educação voltada
para a Vida – a pedagogia da Vida. Ancorada no pensamento reichiano e loweniano,
através de um estudo de caráter testemunhal, construo os fundamentos educativos desta
pedagogia que, apesar de privilegiar a formação no contexto profissional e universitário
brasileiro, amplia-se ideativamente para uma formação humana. Partindo do
funcionalismo reichiano, me aporto na fenomenologia do testemunho sugerida por
Pierron delineando o método de pesquisa. Procuro então situar o uso do testemunho no
campo dos estudos humanos e educacionais, bem como o modo singular adotado nesta
tese. Introduzido os fundamentos teóricos e metodológicos, passo a aprofundá-los de
modo compreensivo. Demonstro o valor do corpo na formação humana e seus impactos
nas relações pedagógicas no contexto acadêmico universitário em diálogo com minha
própria trajetória de vida, dando prioridade às experiências formativas e profissionais,
sem com isto cindir a vivência íntima de si mesmo. Aqui as noções de couraça,
grounding, self e autorregulação auxiliam a tecer analises sobre um corpo cindido,
aprisionado, fraturado, desenraizado de si mesmo que acompanha a formação
profissional e acadêmica de nossos tempos, gerando sofrimento humano e significativas
limitações a um conhecimento íntegro que contribua com os desafios sociais da Vida
hoje. Neste cenário, procuro compreender a relevância da fé, do amor e da liberdade na
relação pedagógica, como axiomas de uma ética da Vida Viva que sustentam nossa
pedagogia de reparação e potencialização da Vida. Através destes axiomas encarnadas
no próprio corpo, como aspectos vivos na existência, é possível enraizar em si mesmo,
sentir a ligação profunda com a natureza íntima e mais ampla, sentir-se seguro nos
vínculos, abrir-se amorosamente para um conhecimento profundo acerca da realidade e
da verdade a partir de si mesmo, e, ser a si mesmo de modo mais libertário e integro.
Contudo, esta pedagogia pelo próprio método testemunhal, como se revela, coloca-se
como uma verdade frágil, construída por um humano fragilizado, passível de
contraprovas e contraverdades. Deste modo, é na abertura e solidariedade da
comunidade que atesta tal pedagogia da Vida, que podemos encontrar sua validade e
crítica.
This doctoral thesis sets out to present a unique way of educating here deemed
as a pedagogy of Life. First of all I present the vision of man, culture and nature as
given in Reichian and Lowenian thought, which points towards a social critique and
ideational search of Life as it is Lived (Viva Vida). Then I seek to situate my approach
with the thinking of Reich and Lowen, their theoretical and epistemological influences
as well as where such perspectives are situated in the field of education - a pedagogy
that draws close to New School and historical-critical approaches, but it displays its
uniqueness by emphasizing physical toil. Further on I place Reichian criticism with
regard to an anti-life pedagogical model in our educational institutions. This study starts
out from this background in order to build an alternative proposal for education focused
on Life - the pedagogy of Life. Anchored in Reichian and Lowenian thought, by means
of using a testimonial study of character, I build the educational foundations of this
pedagogy which, despite foregrounding formation in the professional and university
context of Brazil, is expanded ideationally towards a human formation. Based on
Reichian functionalism, what is tackled is the phenomenology of testimony which was
suggested by Pierron as a research method. I then seek to locate both the use of
testimony in the field of human and educational studies, and the unique way of doing so
adopted in this thesis. Having introduced the theoretical and methodological
foundations, I move on to looking at them in depth and in a comprehensive manner. I
demonstrate the value of the human body in human formation and its impacts on
pedagogical relations in the academic university context in dialogue with the path of my
own life. I give priority to formative and professional experiences, without thereby
separating inner experience from oneself. Here the notions of body armor, grounding,
self and self-regulation help to weave various analyses on a body that is split,
imprisoned, fractured, and uprooted from itself. This is what accompanies professional
and academic formation today, thus causing human suffering and significant limitations
to integral knowledge and it is this which may well contribute to the social challenges of
Life today. Against this backdrop, I seek to understand the relevance of faith, love and
freedom in the pedagogical relationship as axioms of an ethics of Viva Vida which
support our pedagogy of repairing and bringing out the potential of Life. Through these
made flesh in our own bodies, as living aspects in existence, what can take root in
oneself and be felt is the deep tie with intimate nature and one which is more ample, is
feeling safe in relationships, is opening oneself lovingly to a deep knowledge of reality
and truth starting with oneself, and, being with oneself in a more libertarian and integral
way. However, this pedagogy, on account of its own testimony as is revealed, is placed
as a fragile truth, built by a weakened human, and is subject to counter-proofs and
counter-truths. Thus it is in the opening up and solidarity of the community that such a
pedagogy of Life is attested to, and in which we can find its validity and critique.