Este trabalho enfoca determinados fenômenos sócio-culturais relacionados à
estética das tatuagens, piercings e intervenções corporais consideradas radicais, aqui
incluídas as escarificações epdérmicas, os implantes subcutâneos, as suspensões
corporais, etc. Para realizar a investigação partiu-se de 64 indivíduos de ambos os sexos,
faixas etárias e nacionalidades variadas, que se subdividem em grupos de: adeptos,
tatuadores, piercers, práticos em suspensão e modificadores corporais. No Ocidente, as
marcas e os ritos corporais por muito tempo estiveram associados ao exotismo dos
povos primitivos e, posteriormente serviram de inspiração aos movimentos de
vanguarda, dando origem a body art, a qual influenciou nos anos 60 os movimentos de
contracultura , especialmente aqueles relacionados às estéticas hippies e punk. Com a
comunicação em rede e a velocidade de informação tecnológica, as estéticas e ritos
relacionados a esses movimentos sociais se internacionalizaram, o uso da internet
facilitou e abriu canais de comunicação diversos, além disso, motivou a migração das
pessoas envolvidas com tais práticas aos grandes centros urbanos, onde se
comercializam e se consomem produtos e serviços destinados ao corpo e suas
modificações. No caso desta pesquisa, pôde-se observar a mobilidade extraterritorial
dos adeptos desse tipo de estética que migravam de Recife a Madri, as duas cidades que
constituíram o campo de interesse desta investigação. Os ateliês de tatuagens e body
piercings, workshops, feiras e convenções são os espaços sociais onde se pode
contemplar indíviduos que se encontram para modificar e performatizar seus corpos,
bem como para ampliarem as suas redes de contacto. Enquanto a tatuagem e o piercing
estão vinculados a um importante modismo, veiculado na mídia e ligado a um mercado
de consumo, as técnicas consideradas radicais encontram-se à margem do cânone de
beleza estética e mesmo assim não deixam de reunir novos adeptos. A indagação que
norteou a pesquisa foi: como entender a expansão e disseminação desses fenômenos em
diferentes grupos e contextos urbanos aparentemente díspares, como é o caso do Recife,
de Madri ou de qualquer outro centro urbano? O que explica a escolha por tais práticas?
Em que medida as escolhas estéticas também passam a se tornar um estilo de vida, em
alguns casos, atividade de sobrevivência ou simultaneamente signos identitários, assim
como outras possíveis categorias subjetivas construídas a partir dessa escolha?
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior