Partindo do pressuposto de que as rebeliões estão presentes não só no acontecimento visível à
sociedade, mas no cotidiano dos jovens em internação, este trabalho analisa a forma de
administração dos conflitos diários em uma das instituições fechadas para adolescentes do
sexo masculino em Pernambuco. Dentre as categorias internas encontradas na pesquisa, o
habeas corpus, diferentemente de ser remédio jurídico na garantia do direito de ir e vir,
aparece como troca, a fim de viabilizar a contenção dos adolescentes internos. Recebendo
habeas corpus, pequenas regalias no cotidiano, os adolescentes oferecem a contradádiva,
mantendo certa ordem, bom comportamento, preservando a integridade física dos agentes
limpeza (que praticam o habeas corpus) numa possível rebelião. Essa negociação é feita
pela direção e agentes da instituição através da categoria jogo de cintura, a qual possui
características semelhantes às formas de relações sociais expressas no jeito brasileiro
apresentado por Roberto DaMatta. Por outro lado, o trabalho aborda o conceito de poder
analisado por Foucault, encontrado na instituição pesquisada com uma lógica diferenciada das
técnicas de disciplina demonstradas pelo autor. A rebelião, paradoxalmente, é resistência ao
poder e categoria que sustenta o jogo de troca de habeas corpus, porém essa forma de
administração de conflitos pode fracassar a qualquer momento, tornando o jogo tenso e
perigoso, numa instituição superlotada
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico