O presente estudo foi realizado na favela do Bode, situada na zona sul da cidade do
Recife. O trabalho de campo foi composto de etnografia e entrevistas extensas. Os
sujeitos sociais centrais foram rapazes, na faixa etária dos 18 aos 25 anos. O ponto de
partida foi a inquietação gerada pela constatação de que o grupo enfocado, homens,
jovens e pobres são, predominantemente, olhados pelo prisma da negatividade. Este fato
se deve, em grande parte, a junção de alguns fatores, entre eles problemas atrelados à
condição juvenil, o alto índice de violência urbana atual e a histórica e generalizada
carência atribuída aos integrantes das camadas de baixa renda. Na intenção de quebrar a
lógica do não valor, buscou-se, a partir da fala dos comunitários, trajetórias
consideradas diferenciadas e bem vistas localmente. Este viés possibilitou que o
conceito consideração fosse pensado como sendo o reconhecimento contextualizado,
construído ao longo do processo de socialização. As trajetórias dos rapazes pesquisados
foram demarcadas pelas categorias educação, trabalho, religião, e relações familiares e
analisadas à luz dos estudos sobre juventude. As narrativas possibilitaram a visualização
das vias utilizadas para burlar os obstáculos decorrentes do fato de integrarem um grupo
destituído de valor na lógica macro-social e simultaneamente evidenciaram as
estratégias utilizadas para reafirmar a identidade local. Para compreender analiticamente
este duplo movimento de distanciamento e aproximação, foram utilizados os conceitos
de reconhecimento e desconsideração. O exercício da dádiva também se revelou um
elemento decisivo na dinâmica interna de pertencimento
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior