Descripción:
No litoral sul do Rio Grande do Norte, surge um novo santuário com a promoção do
culto a personagens históricas, os mártires de Cunhaú . O relato do evento ocorrido na capela
de Nossa Senhora das Candeias do antigo engenho Cunhaú, no dia 16 de julho de 1645, é
encenado nas comemorações. Neste trabalho é pretendido mostrar como este relato foi
elaborado e se constituiu numa trama histórico-religiosa onde o passado é teatralizado. Nesta
trama, instituída com as celebrações e campanha pela beatificação dos mártires, aparecem as
estratégias de construção de santos locais . Estes se tornaram bem aventurados da Igreja
Católica por contraste com as ações antagonistas dos seus agressores. As releituras presentes
do evento que marcou o passado colonial local, desse modo, também ajudam na fabricação de
alteridades históricas . Na tradição oral do lugar que examinamos, o modelo eclesiástico dos
mártires tende a ser reelaborado pela referência a outros personagens da colonização, que
aparecem nos monumentos ou na natureza. Do conjunto de representações do passado em
Cunhaú é apontada a emergência de um hagiário mestiço que nutre a idéia de uma autoctonia
santificada . A condição sagrada do lugar e de seus personagens ancestrais é acionada pelas
imagens de um martírio encenado