A presente dissertação trata da relação entre etnicidade e nacionalidade a partir da análise da
situação do povo Matsés (Pano) que habita a zona limítrofe entre o Brasil e o Peru. Adotando
a perspectiva de que as regiões fronteiriças configuram espaços que possibilitam observar as
estratégias dos Estados e das populações locais de definição e redefinição territorial –
processos que ainda são influenciados pela atuação de ONGs e de missões religiosas –
buscaremos abordar a etnicidade e a nacionalidade como expressões identitárias interrelacionadas
em um espaço sócio-cultural de fronteiras políticas entre países. A região
estudada tem sido palco de diversas frentes econômicas, como a exploração da seringa e do
caucho, posteriormente, a exploração madeireira e, mais recentemente, os projetos de
concessão para exploração petrolífera no Peru e sua população é constituída de uma
diversidade de povos indígenas (a exemplo dos que habitam a Terra Indígena Vale do Javari
no Brasil), de comunidades ribeirinhas (pescadores, agricultores, seringueiros, extratores e
coletores de modo geral) e por pessoas de outras regiões, como militares, pesquisadores e
missionários. Neste cenário, os Matsés vêm estabelecendo diversas relações interétnicas ao
longo do tempo, definindo e redefinindo sua identidade, construindo sua territorialidade e
(re)formulando sua organização social e política. O quadro de relações estabelecidos entre os
Matsés e as agências indigenistas governamentais e não-governamentais, aliado às dinâmicas
internas ao grupo, têm provocado tanto processos de sedentarização e fixação de comunidades
quanto a mobilidade de grupos ou sub-grupos na área do rio Javari e seus afluentes. Neste
sentido, buscaremos discutir a configuração de novos padrões de territorialidade dos quais
decorrem novas formas de organização social e política.
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas